Radioamadores formam rede de informações para ajudar vítimas de enchentes no RS

Radioamadores formam rede de informações para ajudar vítimas de enchentes no RS

Radioamadores estão mobilizados para levar informações a pontos com comunicação prejudicada devido aos eventos climáticos que atingem o Rio Grande do Sul nos últimos dias. Além de mais de 50 mortes, milhares de pessoas fora de casa e destruição, o Estado sofre com a falta de conectividade. 

Na sexta-feira (3), a Defesa Civil estadual disse que clientes da operadora TIM de 87 cidades estavam sem acesso à telefonia e internet. Usuários da Claro de 51 municípios também não conseguiam acessar os serviços. Já a Vivo enfrenta problemas em 19 localidades. Para minimizar os problemas de conectividade, as três operadoras liberaram o roaming entre si (veja mais informações no fim da reportagem).

Ser um radioamador é permitido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e há uma rede de adeptos com equipamentos para receber e enviar ondas de rádio, mesmo sem uma licença de radioamador.

O contato foi feito pela frequência 146.520 em VHF, usada como um canal de emergência é nela que parte dos radioamadores fica sintonizada à espera de um pedido de socorro. 

— Muitas pessoas têm esses rádios pequenos para fazer trilha, para brincar, e não sabe que são equipamentos com alcance para a frequência de emergência. Falta informação, preparação; era algo que deveríamos saber há tempo — acrescenta.

Durante conversa com a reportagem, Alexandre relatou aumento de pedidos de socorro por conta das cheias no RS:

— Estamos formando uma rede grande em todo o Estado, vamos repassando informações um para o outro, depois para a Defesa Civil, Bombeiros e Brigada Militar. Já participamos de outras situações de emergência e vamos seguir na escuta nessa também.

O rádio é uma saída

Segundo um levantamento de 2022, havia 40,8 mil radioamadores no Brasil; 3,1 mil no Estado. A vantagem da prática é que ela não demanda uma estrutura complexa de informação para se comunicar. Na maioria dos casos, ter energia elétrica, um rádio e uma antena pode conectar uma pessoa a diversas frequências. Há ainda dispositivos portáteis que facilitam o transporte do equipamento.

— Em catástrofes mundiais, os radioamadores estão sempre em prontidão para auxiliar, para restabelecer comunicações: faltou energia, faltou celular, o rádio é uma saída — resume João Carlos Vieira – ou PY2GTA – radioamador de São Paulo.

Vieira cita dois modos de contato durante situações nas quais não há outros meios de comunicação. A primeira é usar a estrutura para enviar o sinal para aparelhos de moradores isolados.

— Muitas pessoas do interior só recebem informação pelo rádio de pilha. Aqui de São Paulo, posso transmitir relatórios de pedidos de ajuda, telefones de celular, para onde as pessoas devem ir, para onde devem ser encaminhadas doações. Tudo o que eu receber de informações da Rádio Gaúcha, por exemplo, posso transmitir via rádio para essas pessoas — comenta.

Outra forma é o contato direto entre os radioamadores, no que é chamada de comunicação ponto a ponto, modo no qual eles conversam, como uma ligação telefônica.

Para fortalecer a rede

O contexto estadual fez o Laboratório de Vulnerabilidades, Riscos e Sociedade (LaVuRS) da Universidade Feevale mapear os radioamadores nos municípios mais afetados pela chuva. A ideia é ter dados sobre quem são essas pessoas e fortalecer uma rede entre o grupo, os atingidos pelas cheias e autoridades.

— O uso dos radioamadores está na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, que prevê que é preciso mobilizar e capacitá-los para a atuação na ocorrência de desastres. Depois dessa divulgação, começamos a receber algumas comunicações de radioamadores sendo portavozes de pessoas pedindo ajuda — diz Danielle Martins, coordenadora do laboratório.

Os dados foram compilados e disponibilizados no Instagram. As informações também foram disponibilizadas para a Defesa Civil estadual.

— Esse é um tipo de tecnologia que infelizmente vem caindo em desuso pela sociedade nos últimos anos, mas que é importante que os órgãos públicos de gestão de riscos considerem, pensando para acionamento em situações como a que temos observado — acrescenta a professora.

O que dizem as operadoras

A Conexis, sindicato nacional das empresas de telefonia e de serviço móvel, enviou a seguinte nota à reportagem sobre os problemas de comunicação no Estado:

As operadoras de telecomunicações seguem atuando para tentar minimizar os impactos causados pelas fortes chuvas que ainda atingem municípios do Rio Grande do Sul. As prestadoras acompanham de perto a situação climática, que afeta serviços como o fornecimento de energia elétrica e deixa sem acesso estradas ruas de diversas cidades, para retomar com segurança o trabalho de restabelecimento dos serviços prejudicados. Como forma de minimizar os impactos para a população atingida, as associadas da Conexis Brasil Digital que atuam no estado habilitaram suas redes de forma que, onde há apenas uma das redes disponíveis, automaticamente os clientes de qualquer operadora possam acessar a rede disponível.

IMPORTANTE:

Para usar a rede aberta entre operadoras é preciso habilitar/ativar nos aparelhos celulares a opção Roaming e Seleção Automática de Operadora.

A Claro também enviou um comunicado sobre o assunto:

Claro concede 5 giga de bônus para clientes do Prezão e Controle nas localidades atingidas pelas chuvas no RS

Diante da catástrofe causada pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias, além da liberação do roaming (as operadoras habilitaram suas redes de forma que, onde há apenas uma das redes disponíveis, automaticamente os clientes de qualquer operadora possam acessar a rede disponível), a Claro está concedendo, desde quinta-feira (2/5), um bônus de 5GB de dados de internet para os clientes de serviço móvel pré-pago, nas mais de 100 cidades impactadas.

Os clientes recebem o bônus gratuitamente, de forma automática. Com o bônus, válido por sete dias no Prezão, e por 30 dias no caso dos planos Controle e Flex. Dessa forma, os usuários poderão se manter conectados e informados. E quem é consumidor do pós-pagos conta com a isenção de multas e juros nos casos de inadimplência neste período crítico.

IMPORTANTE:

Para usar a rede aberta entre operadoras é preciso habilitar/ativar nos aparelhos celulares a opção Roaming e Seleção Automática de Operadora."

GZH contatou Tim e Vivo, mas não teve retorno até o fechamento desta reportagem.

Da Redação com gauchazh